segunda-feira, 8 de junho de 2009

Restrição de carboidrato e treinamento de força

Restrição de carboidrato e treinamento de força

Não existe muito consenso na literatura quanto ao resultado que dietas com restrição de carboidrato possam ter sobre a performance de força e potência. O principal efeito potencialmente negativo da restrição de carboidrato para atletas é a obstrução da reposição dos estoques de glicogênio intra-muscular. Dietas com proporções mais baixas de carboidrato resultam em deficiências na reposição de glicogênio, se comparadas com dietas mais ricas neste nutriente.


Quase todos os estudos foram feitos para esportes de endurance. Burke et al (1993) mostraram que dietas ricas em carboidratos de alto índice glicêmico são mais eficientes do que dietas ricas em carboidratos de baixo índice glicêmico na reposição dos estoques de glicogênio em fundistas. Esse resultado contrasta com aquele obtido cerca de dez anos antes por Costill et al (1981), onde foi verificado que refeições contendo uma mistura de carboidratos complexos (com mais baixo índice glicêmico) resultava na mesma taxa de reposição de glicogênio que refeições contendo carboidratos simples no período de 24h, sendo que em 48h, as refeições com carboidrato complexo eram superiores nesta reposição. O estudo foi feito em corredores de longa distância.


Um estudo de Ivy et al (1988) com exercício de bicicleta mostrou que doses muito diferentes de suplementação com polímeros de glicose resultavam na mesma taxa de reposição de glicogênio.


Além dos dados contraditórios sobre as doses de carboidrato necessárias para a reposição dos estoques de glicogênio, existem problemas relativos às evidências quanto ao timing da suplementação de carboidrato para esta finalidade. Alguns estudos mostram que não faz muita diferença o momento da suplementação pós-esforço de endurance (Parking et al 1997).


Pesquisas relacionadas a doses e timing de carboidrato nas refeições e suplementação de carboidrato têm sido feitas nos últimos 60 anos pelo consenso de que a reposição e manutenção de bons estoques de glicogênio são fundamentais à prática prolongada de exercício intenso de endurance (Ivy 1991).


Até esse momento, o consenso era de que o principal suplemento esportivo deveria consistir de carboidrato, uma vez que era este nutriente que determinava a reposição de glicogênio. Em 1992, Zawadski et al relataram evidências de que a suplementação de carboidrato com proteína é superior à suplementação apenas com carboidrato para a reposição dos estoques de glicogênio. Em 2001, Jentjens et al mostraram evidência contrárias a isso, alegando que acrescentar proteínas ou aminoácidos a um suplemento de carboidratos não teria efeito sobre a reposição de glicogênio. Em 2002, o grupo de Ivy (Ivy et al 2002) reforçou as alegações feitas por Zawadski et al dez anos antes.


Nesta década, boa parte das pesquisas realizadas sobre o efeito da suplementação sobre a reposição dos estoques de glicogênio se complexificou, envolvendo aspectos hormonais e amino-ácidos específicos, creatina e outras substâncias potencialmente ergogênicas.


Enquanto estas pesquisas focadas principalmente em esportes de endurance caminhavam, a falta de consenso se ampliava no que diz respeito aos esportes de força. Em 1989, Symons e Jacobs mostraram que exercícios de alta intensidade não são afetados pelos níveis baixos dos estoques de glicogênio. Tesch (1988) mostrou que atletas de esportes de força, especialmente basistas e levantadores olímpicos, possuem maior capacidade de estoque de glicogênio, porém menor potencial oxidativo de maneira geral.

Roetert (1999) relatou evidências na literatura quanto à falta de efeito que a depleção ou baixa disponibilidade de carboidratos tem sobre a performance de força. Leveritt e Abernethy (1999) mostraram que a restrição de carboidratos na dieta afetava a performance em séries de agachamento até falha de mais de 12 repetições, mas não de exercícios isocinéticos de extensão de pernas. Os autores especularam que possivelmente o teste com exercícios isoinerciais (agachamento) mostre que esta forma de força depende de uma atividade glicolítica mais intensa do que isocinética, mais rápida e intensa. Esta última seria fundamentalmente sustentada pela quebra de precursores fosforilados.


Finalmente, o estudo mais recente de todos, feito pelo grupo de Kraemer (Hatfield et al 2006), demonstrou que o consumo de dietas mais altas em carboidrato não afeta a performance de potência. Sabe-se que potência e força máxima estão bastante relacionadas e que, nos esportes de força particularmente, dependem uma da outra.


Haff e Whitley (2002) revisaram a literatura no que diz respeito às evidências acumuladas em relação ao papel da composição glicídica da dieta de atletas de força. A conclusão não é muito diferente daquela que apresento aqui, ou seja: existe uma enorme inconsistência de resultados e pesquisas futuras são necessárias para esclarecer a relação entre performance de força e potência e conteúdo glicídico da dieta, mediado, e como, pela reposição dos estoques de glicogênio.

(Texto escrito por Marilia Coutinho- escritora, atleta de powerlifting e pesquisadora.)

Fonte: http://educacaofisica.org/joomla/index.php?Itemid=2&id=303&option=com_content&task=view


Postado por Débora Gurgel

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